sexta-feira, 21 de março de 2014

Poema religioso

Tem algo que preciso confessar
com mais veemência do que vos neguei,
estou agora disposto a soltar
todos os erros que eu errei

Eu sei que é imperdoável.
Deus, me perdoe.

Eu não quero mais um pai,
não quero explicação,
só quero um amigo,
quem me dê a mão.

Como pude ser tão cético
prum cara que fez o que pedi sem duvidar
que era só outro caminho
e eu ainda ia voltar?

Não tenho religião,
não tenho salvação,
minha religião é você.

Talvez eu deva me ajoelhar,
talvez eu esteja blasfemando,
quem sabe eu deva ser queimado,
por ser tão prepotente no errado?

Talvez eu só precise de alguém que me ame
incondicionalmente.

Autoria: Ugo Costa 

Soneto de liberdade

Eu não pude escolher momento pior:
numa reta final, fechamento dum ciclo,
na hora do "vamos ver", fim do início.
Eu não pude escolher momento melhor!

Lá ela, pois não se diz a verdade.
Mas ela ria e me cumprimentava sempre
e eu sonhando num tempo mais à frente
quando reinar, de fato, igualdade!

Sinto meus pés descolarem do chão,
aquiesço simplório ao aperto de mão,
quero deitar-me em teu colo...

Sinto sincero o olhar em sorriso teu
e num ano tenho fé de realizar o meu
sonho com que sonharam: liberdade...

Autoria: Ugo Costa

quinta-feira, 20 de março de 2014

O pintor e o crítico

          "Como podes tu julgar essa obra de arte assim?", questionava o moço novo. "Mas isto não tem valor", retrucava o homem velho. Foi um trabalho milimetricamente regrado, com as devidas noções de proporção e harmonia, com um toque de rebeldia estilo carpe diem, nada muito fora da lei. Era bonito, beleza rara, lembrava um poema parnasiano ou algum de Hídrias. Mas o crítico era demasiado duro.
          Mas ele tinha razão: não estava atual, dentro do padrão. Havia algo muito gracioso ali que não vendia mais. Eles pediam por vômitos em telas brancas. Mas não eram vômitos normais, eram vômitos de arco-íris; nem vômitos quaisquer, eram vômitos de artista, merda d'artista. Tudo se vende, menos aquela coisa horrenda. Pois respeitar regras de simetria é ultrapassado, obsoleto e inaceitável.
            Aí, o moço jovem foi embora triste. Ele pensou: "será que está tão feio assim?". Mas vendeu a sua obra na segunda esquina e agradeceu ao governo pelas novas notas de tamanhos diversos, pois assim não seria passado para trás. Engraçado: ele nunca viu cor, nem forma, nem luz, nem simetria. Ele nunca viu uma Vênus! Mas ele fez uma tão perfeita quanto é. 
            Quando os historiadores dos anos 3000 estudarem o século XXI, vão achar que essa era uma época de cegos, mas não verão que os cegos viam.

Autoria: Ugo Costa

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Olhos azuis

Eu não quero limpar meu vômito sozinho!
Eu quero engoli-lo, como um bom adulto faria,
como um seguidor da ética e dos bons princípios.
Eu não quero ter minha felicidade sozinho!
Eu quero espancá-la, como um bom guerreiro faria,
como um servo da pátria, de Deus e dos vícios.

Eu quero me trancar num quarto;
quero te ver perdendo;
mas não suporto gente perdendo;
mas suporto eu ganhando.

Eu quero olhos azuis me aplaudindo.

Autoria: Ugo Costa

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